quarta-feira, 18 de abril de 2012

Criopreservação das células estaminais: Fazer ou não fazer?

O que são células estaminais


As células estaminais são as células mestras do corpo humano. Elas podem dividir-se para produzir cópias de si mesmo e muitos outros tipos de célula. Elas são encontrados em várias partes do corpo humano em cada fase do desenvolvimento do embrião a adulto. As células estaminais retiradas de embriões com poucos dias de idade, podem se transformar em qualquer um dos 300 tipos diferentes de células que compõem o corpo do adulto.
Este tema tem gerado várias discussões e a sua recolha é o centro de dúvida de muitos pais, pois é um investimento muito elevado caso seja feito no privado. A decisão de o fazer ou não é muito pessoal e existem diversas opiniões acerca do tema. O ideal é fazer uma pesquisa sobre as opiniões contra e a favor e tomar a sua decisão conscientemente.
Em Portugal, são cada vez mais as empresas que oferecem um serviço de criopreservação de células estaminais do sangue do cordão umbilical (SCU), o seu armazenamento em azoto líquido a uma temperatura de 196ºC negativos, para que toda a actividade biológica das células cesse, mantendo-as num estado latente.

 

Porque é que as células estaminais são uteis?
Como as células estaminais são tão versáteis,podem potencialmente ser usadas para reparar e substituir os tecidos humanos.Esta capacidade de transformação das células estaminais pode representar tratamento para muitas doenças que afetam milhões de pessoas no mundo.
As células estaminais hematopoiéticas, uma espécie de supercélulas indiferenciadas, têm a capacidade de se diferenciar em vários tipos celulares, de se renovar e dividir indefinidamente. É devido a estas excepcionais características que são tão importantes na terapia de várias doenças hemato-oncológicas, como leucemias e linfomas, entre outras.
Por outro lado, demonstram igualmente capacidade na regeneração dos tecidos, o que, no futuro, poderá aumentar a sua aplicabilidade noutro tipo de doenças, como as doenças ósseas e cardíacas. Actualmente, o período de armazenamento é de 20 anos, havendo a possibilidade de prolongar este período se a qualidade da amostra assim o permitir.



Da colheita ao armazenamento

O processo de colheita ocorre no momento do parto (com um kit específico que terá de ser previamente comprado) imediatamente após o corte do cordão umbilical. Isto significa que nem a mãe nem o bebé serão postos em perigo e nenhum dos dois sentirá qualquer tipo de dor.
O responsável pela colheita é um elemento da equipa médica presente no parto. A partir daqui, a empresa (banco privado) escolhida pelos pais deverá ser alertada para efectuar a recolha, o transporte em tempo útil até ao laboratório e, posteriormente, proceder à criopreservação da amostra de SCU.
Nem sempre a recolha é feita com sucesso e por vezes as colheitas não têm qualidade suficiente para serem criopreservadas, portanto só se avança para a sua criopreservação se o sangue não estiver contaminado.



Outras esperanças

Estas células não se encontram, contudo, apenas no SCU, existindo igualmente na medula óssea.
No caso de um indivíduo necessitar delas para a terapia de uma leucemia, por exemplo, é possível recorrer ao banco mundial de medula óssea. Manuel Abecasis, director da Unidade de Transplantação de Medula Óssea do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, refere que o banco conta com cerca de 12 milhões de dadores voluntários.



Salvar vidas

O SCU de uma criança poderá ajudar a salvar a vida de um familiar, como um irmão.

Vantagens das células estaminais hematopoiéticas do SCU:
 (em relação às da medula óssea dos adultos)
  • São mais jovens,
  • Mais resistentes,
  • Têm maior capacidade de regeneração,
  • Têm maior capacidadede multiplicação (dez vezes superior às da medula óssea),
  • Apresentam índices mais elevados de compatibilidade entre dador e receptor,
  • Têm uma menor incidência de rejeição do transplante, quando usadas no repovoamento de medula óssea de doentes após quimioterapia e/ou radioterapia.


Bancos privados versus Bancos públicos

Portugal e o Reino Unido são os únicos Estados-membros da união Europeia onde existem bancos privados de sangue do cordão umbilical (SCU). No caso do Reino Unido, os que existem submetem-se a uma certificação periódica efectuada pela Netcord (entidade internacional de certificação de bancos públicos de SCU).
«Em Portugal, não há regulamentação», avança Mário Sousa, um dos mais conhecidos defensores da criação de um banco público de SCU no nosso país, «e uma das consequências é que a informação que estas empresas divulgam nem sempre é verdadeira e não é controlada».
Sobre o assunto, Manuel Abecasis, do IPO de Lisboa, é peremptório: «Vivemos numa sociedade livre, com uma economia de mercado, e as pessoas são livres de dar ao seu dinheiro o destino que quiserem. Se informadas correctamente (sem publicidade enganosa) sobre o real valor de congelar o SCU do seu filho, porque não?»
A criopreservação das células estaminais no privado ronda os 1000 euros e o período de armazenamento é de, pelo menos, 20 anos.






Outros argumentos contra:
  1. O uso de células autólogas de sangue do cordão para tratamento da leucemia infantil é contra-indicado uma vez que as células preleucémicas estão presentes na altura do nascimento. As células autólogas de sangue do cordão são portadoras dos mesmos defeitos genéticos do doador e não devem ser usadas no tratamento de doenças genéticas.
  2. Presentemente, não há nenhum protocolo conhecido envolvendo a utilização de células estaminais autólogas de sangue do cordão utilizadas em tratamentos.
  3. Se os tratamentos com células estaminais autólogas se tornarem realidade no futuro, estes protocolos provavelmente assentarão na facilidade de acesso a células estaminais.


Questão levantada no Congresso Português de Medicina da ReproduçãoRui Reis, o Presidente da Sociedade Portuguesa de Células Estaminais (SPCE), considerou hoje que "faz todo o sentido" investir na criopreservação de células estaminais do sangue do cordão umbilical, tendo em conta os previsíveis avanços da ciência. A posição de Rui Reis surge em resposta ao responsável pela unidade de transplantação de medula óssea do Instituto Português de Oncologia, Manuel Abecassis, que considerou esta manhã não valer a pena gastar mais de mil euros na criopreservação.
"Coisas que hoje ainda não são possíveis na prática clínica, sê-lo-ão com certeza daqui a 10 ou 15 anos. Há que acreditar nos cientistas", contrapôs o presidente da SPCE, em declarações à agência Lusa. "Há quem faça um seguro automóvel contra todos os riscos mas há também quem arrisque andar na estrada sem seguro", ilustrou Rui Reis. "Quem puder, deve investir mesmo na criopreservação do sangue do cordão umbilical para uso próprio. Faz todo o sentido", frisou Rui Reis, considerando que "há um conjunto de abordagens que nunca será possível com células de outro paciente". Explicou que a prática está generalizada em muitos países e referiu que em Espanha, onde foi proibida, a família real optou pela criopreservação de células estaminais do sangue do cordão umbilical dos seus herdeiros nos Estados Unidos.

No final do 3º Congresso Português de Medicina da Reprodução, hoje no Porto, o especialista Manuel Abecassis questionou a utilidade da criopreservação de células estaminais do sangue do cordão umbilical. Reduzindo esta prática a uma "moda", disse que se tivesse agora um filho "pegava nos 1.200 euros e comprava certificados de aforro", e quando ele tivesse 18 anos entregar-lhe-ia os títulos. "Nestes milhares de sacos de sangue congelado em todo o mundo há três casos de sucesso, portanto, não se pode dizer que não serve para nada, mas o que se pode dizer é que a probabilidade de utilização é muito baixa e, provavelmente para todos os casos, há alternativas", justificou. Manuel Abecassis afirmou que os sites das empresas privadas que se dedicam à congelação do sangue do cordão umbilical "não contêm informação correcta, rigorosa e objectiva", sendo "muito fantasiosos". O responsável criticou o facto de as empresas portuguesas que desenvolvem esta actividade apresentarem esta técnica aos pais como "um seguro de vida para o filho", dando a entender que o sangue "pode servir para tudo e mais alguma coisa". Em contrapartida, o responsável defendeu a criação de um banco público de sangue do cordão umbilical, afirmando que "faz falta".
(Noticia publicada em Maio de 2007 no "Ciência Hoje")

Sem comentários:

Enviar um comentário